História da Cidade
As primeiras campanhas muçulmanas de ocupação da Península Ibérica decorreram entre 711 e 715 e Coimbra capitulou em 714. A sua topografia e situação geográfica contribuíram para o seu crescimento e desenvolvimento. Apesar de não ser uma cidade grande, no contexto geral do Al-Andaluz, era o maior aglomerado urbano a norte do Tejo. Tinha 10 hectares de recinto muralhado e entre 3000 a 5000 habitantes.
Da época islâmica perdurou a denominação dada ao interior da cidade intra-muros, a almedina, e extra-muros, o arrabalde. A localização da alcáçova, ou seja o palácio fortificado onde vivia o governador da cidade, foi também estabelecida durante a permanência islâmica na cidade. Esta construção será mais tarde o paço real, onde viveram os primeiros reis de Portugal.
A cidade foi reconquistada pelos cristãos definitivamente em 1064 por D. Fernando I, o Magno, ficando o governo da região entregue a D. Sesnando, que a reorganizou económica e administrativamente.
Os condados de Portucale e de Coimbra foram entregues ao conde D. Henrique pelo rei de Castela, D. Afonso VI, em 1096, assim como a mão da sua filha ilegítima Teresa. O conde tinha como tarefa manter e, eventualmente, expandir as linhas de fronteira do condado que confrontavam com o território islâmico. Com a sua morte, em 1112, fica D. Teresa como condessa de Portucale e de Coimbra, condados que entretanto se unificaram.
O filho de D. Henrique e D. Teresa, D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal instalou-se com a corte em Coimbra, passando esta a ser a cidade sede do reino. A situação estratégica da urbe e as sua imponentes muralhas, eram factores favoráveis à política de conquista de território do monarca. Da cidade partiam as expedições militares em direcção ao sul. A defesa de Coimbra foi consolidada com a edificação de uma rede de castelos que protegia a cidade a Sul e a Oeste, como por exemplo Leiria, Soure, Rabaçal, Alvorge e Ansião. Para além das questões militares a cidade tinha, também, a seu favor uma certa dinâmica comercial adjuvada pelo cruzamento das duas importantes vias (fluvial e terrestre).
O século XII foi um período áureo na história da cidade. Bem localizada com terrenos férteis, com um bom porto fluvial, bem fortificada e povoada - calcula-se cerca de 6000 habitantes - Coimbra tinha entre a sua população um número considerável de magnates, infanções, cavaleiros e membros do alto clero. D. Afonso Henriques impulsionou a construção ou a reconstrução de vários edifícios. O mosteiro de Santa Cruz foi fundado em 1131 por D. Telo e D. Teotónio, com o apoio do monarca, encontrando-se o seu túmulo e o do seu filho na respectiva igreja. Promoveu a construção da catedral românica da cidade, a Sé (Velha), no local de um antigo templo dedicado a Santa Maria. A reconstrução da ponte (de origem romana) iniciou-se em 1132. Recuperaram-se novas estruturas de utilidade colectiva como fontes, fornos, ruas, calçadas. Reconstruiu-se e melhorou-se a muralha e fundaram-se infra-estruturas assistenciais. No sentido de confirmar e reforçar o poder do Concelho, D. Afonso Henriques, concede à cidade uma carta de foral em 1179.
Nos finais do século XIII inícios do XIV, acabou por se consolidar o confronto espacial entre a cidade aristocrática, política e militar (na Almedina) e a cidade mercantil, artesanal e laboriosa (no arrabalde). No arrabalde situavam-se, também, as judiarias, a "velha" e a "nova" - a primeira na actual Rua Corpo de Deus e a segunda nas imediações da rua Direita. Para além das duas zonas principais da cidade, existiam ainda pequenos aglomerados de casas em torno de mosteiros e conventos (localizados perifericamente) como os de Celas, Santa Clara, Santo António dos Olivais.
Em 1537, a Universidade instala-se definitivamente em Coimbra por ordem de D. João III. A partir deste ano a sua existência e funcionamento condicionaram a dinâmica do espaço urbano da cidade. Ainda em 1535, e tendo em vista a instalação dos estudos, D. João III com a colaboração de Frei Brás de Barros mandou rasgar a Rua de Santa Sofia. Nesta artéria ficariam instalados os Colégios Universitários, cujo objectivo seria albergar os estudantes, e prover uma formação base preparatória. A rua apresentava umas notáveis dimensões de 200 braças (440 metros) de extensão e seis braças (13,2 metros) de largura e os edifícios construídos estavam organizados linearmente e apresentavam uma tipologia conventual, com uma igreja externa adjacente a um claustro.
Em 1544, a Universidade acabaria por se instalar no Paço Real, na Almedina ou Alta da cidade. A aquisição definitiva do edifício pela Universidade acabou por se efectuar apenas em 1597, data a partir da qual se empreenderam obras de adaptação do Paço a Escola. Várias campanhas de alteração e enriquecimento, efectuadas ao longo dos séculos, marcaram este conjunto de edifícios, no qual se encontra o património mais significativo da cidade de Coimbra. Já no século XVIII, o Marquês de Pombal empreendeu uma grande reforma da Universidade, que implicou, para além da remodelação curricular a criação de edifícios destinados às novas faculdades orientadas para um ensino mais prático e experimental. Para além do património arquitectónico a Universidade marcou profundamente a dinâmica social, cultural e económica de Coimbra.. Tinham que existir serviços que provessem as suas necessidades. Efectivamente muitos "futricas", (nome dado aos conimbricenses pelos estudantes) como por exemplo, os tendeiros, os artesãos, os criados, as lavadeiras, os livreiros e até mesmo os proprietários dos imóveis destinados ao arrendamento, orientavam a sua actividade económica em função das necessidades da população estudantil. As festas académicas seriam, também, adoptadas pela cidade. A "Latada", ou recepção ao caloiro no início do ano lectivo e a "Queima das Fitas", no mês de Maio, acabaram por ser consideradas como festas da cidade, trazendo a esta milhares de visitantes. As actividades da Associação Académica sejam elas desportivas ou culturais, como por exemplo as tunas, os grupos corais e teatrais e os clubes foram igualmente considerados como sendo dos conimbricenses. A canção de Coimbra ou o fado, celebrizado pelos estudantes, acabou por ficar nas tradições da cidade, constituindo actualmente uma atracção turística.
No contexto nacional da Regeneração, durante a segunda metade do século XIX e sobretudo por iniciativa da autarquia, implementaram-se infra-estruturas e criaram-se equipamentos colectivos que permitiram o crescimento e o desenvolvimento da urbe, como por exemplo: o cemitério da Conchada, o caminho de ferro e o Americano, a edificação do Mercado D. Pedro V, a construção da ponte da Portela e da nova ponte metálica, o projecto da Penitenciária, assim como os arranjos urbanísticos da baixa e beira rio e, ainda, o alargamento da cidade com o projecto da urbanização da Quinta de Santa Cruz em. Já no século XX, mais concretamente no dia 1 de Janeiro de 1911, inaugurou-se o serviço de carros eléctricos que permitiu e acompanhou o crescimento da cidade ligando o antigo centro urbano às novas zonas residenciais de Celas, Santo António dos Olivais, Penedo da Saudade e Calhabé.
No século XX a cidade cresceu rapidamente. A construção civil passou a ser uma actividade económica em franco crescimento e progresso. A cidade passa a ser constituída pelos pequenos burgos que a rodeavam com novas ruas e arruamentos a interligá-los. Surgem locais como Montes Claros, Arregaça, Cumeada e Calhabé ou Solum. Entretanto os arruamentos, já projectados desde o século XIX, na antiga quinta dos crúzios ganharam forma e constituíram o excelente conjunto do chamado Bairro de Santa Cruz, contíguo à moderna Avenida de Sá da Bandeira e em torno da Praça da República. Na década de 40-50 as demolições de parte da zona residencial da Alta de Coimbra, para a construção do complexo monumental da Universidade de Coimbra, obrigaram ao realojamento da população em novos bairros. Para este fim foram construídos o bairro de Celas, o das Sete Fontes e o Marechal Carmona, actual bairro Norton de Matos.
Ao longo das décadas de 60, 70 e 80 a expansão do espaço urbano consolidou-se e apareceram os prédios residenciais nas novas zonas da cidade. Este crescimento foi acompanhado pela construção de novas vias de comunicação e infra-estruturas. O núcleo primitivo da cidade, está actualmente ocupado sobretudo por comércio e serviços, tendo vindo a perder a sua função residencial. A Universidade está, também, a expandir-se para as novas zonas da cidade com a construção dos novos pólos (Pólo II na Quinta da Boa-Vista e Pólo III em Celas), colaborando e impulsionando este movimento de crescimento urbano. Os habitantes de Coimbra adaptaram-se ao seu novo espaço e adoptaram novas centralidades, como por exemplo, Celas, Solum e Vale das Flores.
A cidade acolhe um património com um valor arquitectónico, cultural e natural de grande interesse que reflecte os grandes momentos da história, não só de Coimbra, como de Portugal.
Raquel Magalhães
Fonte: http://www.cm-coimbra.pt